A CRÔNICA
PLANO DE AULA
DISCIPLINA: Língua Portuguesa
PROFESSOR: Ricardo Malheiros
CONTEÚDO: A Crônica
OBJETIVOS: Conhecer e destacar as características de uma crônica e diferenciá-la dos demais gêneros narrativos.
METODOLOGIA: Roda de leitura, leitura compartilhada, exercícios escritos, dinâmica de percepção do texto, diálogo.
Gênero textual: Crônica
Ampliando os conhecimentos
O texto que você leu é uma crônica, um gênero publicado em jornais e revistas, porém, diferentes de outros gêneros jornalísticos, como a noticia, a reportagem.
A crônica se caracteriza por apresentar os fatos do cotidiano de forma artística e pessoal.
A crônica quase sempre é um texto curto escrito numa linguagem coloquial, simples e direta. Apresenta poucos personagens e se inicia quando os fatos principais de narrativa estão por acontecer. Por essa razão, o tempo e o espaço da crônica são limitados: as ações normalmente ocorrem num único espaço e o tempo não dura mais do que alguns minutos ou, no máximo, algumas horas.
(William Roberto Cereja)
TEXTO
Na escuridão miserável
Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico.
Senti que alguém me observava, enquanto punha o motor em movimento. Voltei-me e dei com os olhos grandes e parados como os de um bicho ao meio fio. Eram de uma negrinha mirrada, raquítica, um fiapo de gente, encostada ao poste como um animalzinho, não teria mais que uns sete anos. Inclinei-me sobre o banco, abaixando o vidro:
_ O que foi minha filha? Perguntei, naturalmente pensando tratar-se de esmola.
_ Nada não senhor – respondeu-me com medo, um fio de voz infantil.
_ O que é que você está me olhando ai?
_ Nada não senhor – repetiu. Esperando o bonde...
_Onde é que você mora?
_ Na praia do pinto.
_ Vou para aquele lado. Quer uma carona?
Ela vacilou, intimidada. Insisti, abrindo a porta:
_ Entra aí, que eu te levo.
Acabou entrando, sentou-se na pontinha do banco, e enquanto o carro ganhava velocidade, ia olhando duro para frente, não ousava fazer um movimento.
Tentei puxar conversa:
_ Como é o seu nome?
_ Tereza.
_ Quantos anos você tem?
_Dez
_ E o que estava fazendo ali, tão longe de casa?
_ A casa da minha patroa é ali.
_ Patroa? Que patroa?
Pela sua resposta pude entender que trabalhava na casa de uma família no Jardim Botânico: Lavava roupa, varria a casa, servia a mesa. Entrava as sete da manhã, saía as oito da noite.
Hoje saí mais cedo. Foi jantar.
_Você já jantou?
_ Não. Eu almocei.
_ Você não almoça todo dia?
_ Quando tem comida pra levar, eu almoço: mamãe faz um embrulho de comida para mim.
_ E quando não tem?
_ Quando não tem, não tem – e ela parecia sorrir, me olhando pela primeira vez. Na penumbra do carro, suas feições de criança, esquálidas, encardidas de pobreza, podiam ser as de uma velha. Eu não me continha mais de aflição, pensando nos meus filhos bem nutridos. Um engasgo na garganta me afogava no que os homens experimentados chamam de sentimentalismo burguês.
_ E quanto você ganha?
_ Mil cruzeiros.
_ Por mês?
Diminui a marcha, assombrado, quase parei o carro, tomado de indignação. Meu impulso era voltar, bater na porta da mulher e meter-lhe a mão na cara.
_ Como é que você foi parar na casa dessa... Foi parar nessa casa? Perguntei ainda, enquanto o carro, ao fim da Rua no Leblon se aproximava das vielas da praia do Pinto. Ela disparou a falar:
_ Eu estava na feira com mamãe e então a madame pediu para eu carregar as compras e aí no outro dia pediu a mamãe pra eu trabalhar na casa dela. Então mamãe deixou porque não pode ficar com os filhos todos sozinhos e lá em casa é sete meninos fora dois grandes que já são soldados. Pode parar que é aqui seu moço, obrigado.
Mal detive o carro, ela abriu a porta e saltou, saiu correndo, perdeu-se logo na escuridão miserável da Praia do Pinto.
Sabino, Fernando. A companhia de viagem. 4ª ed. Rio de Janeiro, Record, 1977, p. 137
Interagindo com o texto
1) A menina aceita a carona do desconhecido, mas se percebe que ela não se sente a vontade. Porque isso acontece?
2) .Que estratégia o narrador utiliza para conquistar a confiança da menina?
3) Que sentimento o narrador experimenta ao saber que a menina não almoça todos os dias?
4) Como o narrador reage ao saber o valor do salário de Tereza? Por que ele tem essa reação?
5) Releia a crônica “Na escuridão miserável” e identifique seus elementos estruturais: Personagens – Caracterização da personagem principal – Locais onde se passam os fatos – Tempo em que acontecem os fatos.
BONS ESTUDOS!
PROFESSOR RICARDO MALHEIROS.
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